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terça-feira, 19 de julho de 2011

Opinião: Ainda dá tempo pra reinventar a roda?


Neste primeiro semestre já passamos pelos lançamentos dos principais nomes do circuito pop atual (ou os mais comentados, como queiram).  Agora o mundo se prepara para ouvir o próximo álbum da Rainha do Pop. Já vazaram até imagens de pessoas que cruzaram a casa de Madonna e ouviram algumas músicas (ainda penso que era a empregada da Madonna fazendo faxina, mas...). Os fãs já logo balburdiaram que esse CD seria revolucionário. Até a própria cantora falou isso. Depois de algumas especulações foi confirmado que os produtores de Rihanna e Katy Perry iriam participar do álbum. E aí deixo a pergunta que me veio à cabeça logo ao acordar: será que existe revolução usando produtores que já fizeram outros hits? Será que ainda é possível inventar e revolucionar o mundo da música?

Particularmente não acredito em revolução. Acredito, sim, em reinvenção. Posso pagar com a língua sobre o que vou dizer, mas penso que o álbum de Madonna trará músicas dançantes, com alguns versos chicletes e talvez uma ou duas faixas trazendo produtores novos que misturam alguns sons diferentes. Não espero nada a mais. O primeiro fator é que é difícil alguma gravadora se arriscar no momento em que estamos, onde a indústria fonográfica já não sabe mais como vender suas músicas (mesmo com Eminem e Adele batendo recorde em vendas digitais). E o segundo fator é que o mundo Pop nada mais é do um reflexo de todo o comportamento da sociedade.

Para entender melhor esse segundo fator, o leitor precisa percorrer o meu raciocínio e assim perceber como as coisas estão ocorrendo. Então, vamos lá!

Quem estuda história - ou se interessa ao menos - já percebeu que as nossas civilizações gostam de repetir fatos. São guerras, acordos, crises, todos com contextos parecidos. Se não há contexto parecido, o modo como os fatos acontecem possui alguma semelhança. Ou quem não se lembrou do Crack de 29, quando em 2008 os Estados Unidos passou por aquela crise que tem reflexos até hoje? Muito disso acontece porque pensamos que se algo já deu certo, pode dar novamente. É o que acontece com as apostas em cassinos, por exemplo.

Assim, não só a política e a economia aproveita isso, como a moda também usa dessa repetição para evoluir. Ou alguém, há dez anos, pensaria que estaria usando aqueles óculos enormes que só víamos nos filmes dos anos 50-60? E as famigeradas pantolonas? E a cintura alta? E os colares enormes? E os cardigans? E os sapatos meia pata? E os peep toe?E as ankle boots? É claro que não usamos todas essas peças como as nossas mães e avós usavam. Finalmente, chegamos ao ponto em que eu queria. A moda simplesmente está se reinventando, buscando no passado as coisas que deram certo e adaptando às situações em que vivemos. Os anos 80 eram coloridos? Ok, vamos ser coloridos também: mas agora mais vibrantes como nunca!

É importante entender esse ponto: não há cópia de algo que já existe, e sim reinvenção daquilo. Usamos todas essas peças com outras roupas que se antigamente usássemos seriamos as “pessoas fora de moda”. Reinventamos o que usamos por um simples pensamento que a nossa sociedade adquiriu: porque jogar fora algo que podemos usar ainda? E assim, a caixa do feirante vira uma linda estante, ou quem sabe, uma mesinha de cabeceira. Reinventamos para poder reciclar. E reciclamos para poder viver no mundo em que estamos.

E assim voltamos ao começo do texto. O mundo pop, incluindo a música é esse reflexo. Já foram tantas coisas boas, por que não usá-las novamente? E o mais importante, se divertir com essas coisas?

Sei que muitos fãs gostariam que seus artistas fossem originais, os criadores da roda. Mas, não é bem assim que acontece. Um exemplo é Beyoncé que pregou o seu nome no mundo pop com o vídeo ‘Single Ladies’. A coreografia, copiada por vários em todo o planeta, nada mais é do que uma releitura – mais rápida – de outra coreografia do anos 70 (como você por ver neste post). A mesma cantora bebeu (e muito) dessas cantoras dos anos 60-70 para compor o álbum “4”, seu mais recente lançamento. Um exemplo é a faixa – que eu adoro, particularmente – “Love on Top”.

Mas não só Beyoncé bebeu da fonte. Britney bebeu da música eletrônica da Ke$ha, que por sua vez, apostou na música eletrônica que já estava dando sinais de sucesso com Lady Gaga. Esta usou de várias fontes: David Bowie, Cher e a mais apontada, Madonna. Inclusive muitos fãs da última acusam a todo o momento que a Lady Gaga copia totalmente a Madonna. O que muitos esquecem é que Madonna surgiu ao mesmo tempo em que a veia pop de Michael Jackson surgia. A rainha bebeu da fonte do rei também (aliás, quem não beberia?).

O que quero deixar claro é que nenhum desses artistas são desmerecidos de sua arte. Madonna (antes que me ataquem) deixou sua contribuição por ousar, por ter a coragem de ousar, coisa que poucos tem culhão para fazer. Mas o fato é que a reinvenção é algo natural da sociedade.

No fim, não há medidas de qualidade de artistas. Há artistas que não tem talento e outros que tem talento. Tanto talento que conseguem tomar para si um passo usado no filme “Cabin in the Sky” (1943). Não é, Michael Jackson?

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